Cientistas do NIH (Institutos Nacionais de Saúde, dos EUA) desenvolveram uma vacina tetravalente segura contra a dengue que se provou eficaz em estimular uma resposta imune forte na maioria dos pacientes
A dengue é uma doença causada por quatro vírus relacionados – DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4 – transmitidos aos seres humanos por mosquitos Aedes. É prevalente em muitas regiões tropicais e subtropicais do mundo.
A Organização Mundial de Saúde estima que, a cada ano, 50 a 100 milhões de casos de dengue ocorrem em todo o mundo, resultando em 500.000 internações de pacientes com casos graves.
No Brasil, o número de casos de dengue este mês diminuiu 60% em relação a janeiro do ano passado, segundo o Programa Nacional de Controle da Dengue. Em janeiro de 2011 foram registrados 40 mil casos em todo o país, enquanto em 2012 foram registrados 16 mil.
Contra tudo e contra todos
A infecção com um dos vírus da dengue resulta na imunidade a esse vírus específico, mas não aos outros três. Pesquisas mostram que a probabilidade de doença grave aumenta quando uma pessoa é subsequentemente infectada com um vírus da dengue diferente. Isso sugere que a vacina da dengue ideal seria tetravalente, isto é, protegeria contra os quatro vírus da dengue simultaneamente.
“A carga global de dengue é enorme e está crescendo”, disse Anthony S. Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID), parte do NIH. “Estamos cautelosamente otimistas sobre estes recentes resultados de ensaios clínicos com a vacina tetravalente desenvolvida, mas muito mais trabalho ainda precisa ser feito”.
Fase I: sucesso
A Fase I do estudo clínico, lançada em julho de 2010 e coordenada por Anna Durbin, da Universidade Johns Hopkins em Baltimore (EUA), testou uma dose única de quatro versões da vacina contra a dengue.
As vacinas são feitas de vírus vivos atenuados, o que significa que contêm vírus enfraquecidos o suficiente para não causar a doença, mas induzir uma resposta imune. Cada uma das quatro vacinas testadas incluíram misturas diferentes de componentes destinados a proteger contra os quatro vírus da dengue.
112 homens e mulheres saudáveis com idades entre 18 a 50 anos que não tinham sido previamente expostos ao vírus da dengue ou afins, como vírus do Nilo Ocidental e vírus da febre amarela, participaram do estudo.
Os participantes foram divididos aleatoriamente em quatro grupos. Em cada grupo, 20 voluntários receberam uma única dose de 0,5 mililitro subcutânea (sob a pele) de uma das combinações de vacinas tetravalentes, e outros 8 receberam placebo.
Todos foram monitorados para reações adversas imediatas por pelo menos 30 minutos após a vacinação. Subsequentemente, suas temperaturas corporais foram monitoradas três vezes por dia durante 16 dias. Exames físicos foram feitos nos dias 16, 21, 28, 42 e 180 do estudo.
As quatro combinações de vacinas induziram respostas de anticorpos contra cada um dos vírus da dengue.
A combinação de vacina TV003 pareceu induzir a resposta mais equilibrada de anticorpos contra os vírus de dengue. Uma dose única de TV003 resultou em uma resposta de anticorpos a todos os quatro vírus da dengue em 45% dos participantes, e contra três dos quatro vírus em adicionais 45% dos pacientes. No geral, uma resposta imunitária a pelo menos três vírus foi observada em 90% dos indivíduos vacinados com TV003.
“O que é mais promissor é que TV003 obteve respostas de anticorpos sólidos após apenas uma dose. Outras vacinas em desenvolvimento requerem duas ou três injeções em doses mais elevadas para atingir resultados semelhantes”, explicou Stephen Whitehead, do Laboratório NIAID.
Todas as quatro candidatas a vacinas tetravalentes foram consideradas seguras, e nenhum participante experimentou febre ou outros sintomas de dengue após a vacinação. O efeito colateral mais comum foi uma erupção cutânea fraca (64% dos indivíduos vacinados), composta por pequenos inchaços não dolorosos nos braços e torso, que sumiram dentro de cinco a sete dias.
A presença da erupção pareceu correlacionar-se com a cor de pele branca e com uma forte resposta imune à vacina. 90% dos vacinados brancos registraram uma erupção relacionada com a vacina, enquanto apenas 35% dos afro-americanos vacinados desenvolveram uma erupção cutânea. Além disso, 97% dos vacinados brancos (42 de 43) desenvolveram anticorpos contra pelo menos três dos vírus da dengue, em comparação com 60% dos receptores de vacina afro-americanos (22 de 37).
Não está claro o que causou essa diferença, mas estudos anteriores de surtos graves de dengue no Brasil, Cuba e Haiti sugerem que os negros podem ter alguma proteção inerente da infecção por dengue. Alternativamente, fatores desconhecidos podem ter resultado numa fraca resposta de anticorpos à vacina entre afro-americanos. Novas pesquisas sobre diferenças raciais na infecção por dengue e taxas de resposta de anticorpos à vacina contra a dengue são necessárias para entender essas conclusões.
O próximo passo da pesquisa é avaliar ainda mais a segurança da vacina e sua capacidade de estimular uma resposta imune em voluntários saudáveis e em pessoas que foram infectadas anteriormente pela dengue ou vírus relacionados.
Brasil em teste
A produção barata de TV003 (custo inferior a US$ 1 ou cerca de R$ 2,05 por dose) é fundamental para seu uso potencial em países em desenvolvimento. Fabricantes no Brasil, Índia e Vietnã, países onde a dengue é predominante, já licenciaram a tecnologia da vacina para produção e avaliação. Ensaios de Fase II para testar a segurança de TV003 e sua capacidade de criar uma resposta imunológica começarão em breve no Brasil e na Tailândia. [Natasha Romanzoti][MedicalXpress, CombateaDengue]
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