Depois que seus pais (e até avós) aderiram à rede social, internautas de 13 a 17 começam a buscar outras alternativas para conversar e trocar fotos
Da esquerda para a direita: Inaê Azevedo, Amanda Lapido e Ana Paula Iaconis, de 13 anos, conversam pelo celular. Elas trocaram o Facebook por outras redes (Foto: Camila Fontana/ÉPOCA)
Ana Paula Iaconis vive trocando mensagens com seus amigos. Inaê Azevedo usa a internet para postar suas opiniões. Amanda Lapido gosta de ver e compartilhar fotos. A rotina das três meninas, todas de 13 anos, parece trivial, mas o mercado de tecnologia está de olho nelas. O motivo? Elas fazem tudo isso longe do Facebook, e seu comportamento ilustra uma tendência entre adolescentes. O principal motivo da mudança é a chegada dos adultos. “No começo, o Facebook era uma coisa nossa e de nossos amigos. Depois, começou a entrar muita gente.
Os pais querem participar de tudo”, diz Ana Paula. Para não interagir com os tiozões, os jovens começam a buscar refúgio noutros sites e aplicativos. “Agora existem aplicativos muito melhores, como o Instagram e o WhatsApp”, afirma Amanda. O Facebook não foi completamente abandonado, mas deixou de ter lugar de destaque na vida delas e passou a ser a segunda opção para conversar com amigos que ainda não aderiram à nova moda. “Uso o Facebook para falar com pessoas que não têm WhatsApp”, diz Inaê.
O que é novidade para os adolescentes brasileiros já se tornou objeto de estudo nos Estados Unidos. Segundo uma pesquisa realizada pelo site iStrategy Labs, 3 milhões de jovens americanos entre 13 e 17 anos abandonaram o Facebook nos últimos três anos. O número corresponde a mais de 25% do total de usuários nessa faixa etária. Numa teleconferência em outubro, o executivo-chefe de finanças do Facebook, David Ebersman, reconheceu que adolescentes têm dedicado menos tempo ao site.
Por enquanto, isso não afeta o desempenho da empresa: desde que o Facebook abriu seu capital, em maio de 2012, o valor de sua ação na Bolsa de Valores subiu de pouco mais de US$ 38 para pouco mais de US$ 58,51. Mas alguns pesquisadores acreditam que a saída dos adolescentes é apenas o início de uma debandada. Depois de entrevistar jovens de 16 a 18 anos, Daniel Miller, professor da University College London, publicou um estudo em que afirma que o Facebook está “morto e enterrado” e que os adolescentes sentem vergonha de usar o site.
Na semana passada, pesquisadores da Universidade Princeton, John Cannarella e Joshua Spechler, fizeram uma analogia entre redes sociais e epidemias para prever que, entre 2015 e 2017, 80% dos usuários se tornarão “imunes” ao Facebook e abandonarão o site. O efeito seria devastador. Basta lembrar da desvalorização do MySpace, comprado por US$ 580 milhões pela NewsCorp em 2005, quando era uma das maiores potências do mercado digital, e vendido por US$ 35 milhões – menos de um décimo do valor original – em 2011, quando a maioria de seus 125 milhões de usuários já havia migrado para o Facebook. Seria a debandada atual dos adolescentes o primeiro sintoma do colapso da maior rede social do mundo?
Até entre os adolescentes há quem discorde dessa previsão. O sucesso dos “rolezinhos”, encontros de adolescentes nos shoppings da periferia de São Paulo, mostra que o Facebook ainda tem o poder de mobilizar os jovens: os organizadores dos eventos têm dezenas de milhares de seguidores na rede social e a usaram como principal ferramenta para convidar amigos para a algazarra. “Os jovens estão usando outras redes sociais também, mas não necessariamente abandonando o Facebook”, afirma Matheus Lucas Bernardo, de 16 anos, que chamou seus 35 mil seguidores para os rolezinhos. “As pessoas usam o Instagram e o WhatsApp no celular e o Facebook no computador”, diz Daniel Santos, também de 16 anos, que usa o site para organizar encontros com seus 88 mil “fãs”.
Mesmo se o êxodo dos adolescentes se confirmar, isso não será suficiente para afirmar que o Facebook está em apuros. “Esta faixa etária, dos 13 aos 17 anos, não compra muito e nem é formadora de opinião”, diz Elizabeth Saad, professora da USP especialista no mercado digital. “O Facebook ganha dinheiro com publicidade, e o que interessa é expor seus anúncios para formadores de opinião e compradores.”
Segundo ela, o desinteresse dos adolescentes pelo site é algo natural no ciclo de vida das redes sociais. “Esse público não permanece nos mesmos sites por muito tempo. Prefere migrar para outros ambientes e experimentar novidades”, diz. A chegada em massa dos pais desses jovens ao Facebook tornou a mudança ainda mais difícil de evitar. “O jovem não consegue construir sua identidade se frequentar os mesmos espaços que seus pais. Ele precisa se diferenciar”, afirma o psicólogo Aurélio Melo, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. “Os pais, pelo contrário, sempre tentam frequentar os mesmos lugares que os jovens, para controlá-los ou para se sentirem na moda.” Diante desse dilema, só restaria aos adolescentes a migração – por mais que o Facebook quisesse mantê-los.
A saída dos jovens até 17 anos pode não ferir o bolso de Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, mas afetará a imagem do site. “Antes, estar no Facebook era visto como algo moderno e legal. Hoje, para os mais jovens, a rede mais descolada é o Snapchat, por causa da privacidade”, afirma Gil Giardelli, professor de inovação digital da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). No Snapchat, imagens e vídeos desaparecem segundos depois de ser vistos. Zuckerberg diz que isso não é um problema. “Talvez a eletricidade fosse legal quando foi descoberta, mas as pessoas logo pararam de falar dela porque deixou de ser nova”, disse ele, em setembro, numa entrevista à revista americana The Atlantic.
“A verdadeira pergunta que você precisa fazer é: há menos pessoas acendendo a luz porque deixou de ser bacana?” A analogia parece exagerada. Por mais popular que o Facebook seja, está longe de ser uma invenção tão revolucionária quanto a luz elétrica. Um raciocínio mais próximo da realidade seria comparar o Facebook ao Windows, da Microsoft, ou às patentes de tecnologia da IBM: produtos que rendem lucros bilionários até hoje, apesar de não serem vistos como algo “descolado”.
Outro fator que favorece o Facebook no longo prazo é o fato de os adolescentes estarem migrando para diversas redes e aplicativos diferentes, e não para um único serviço. Num mundo de experiências digitais cada vez mais fragmentadas, dificilmente um concorrente conseguirá igualar o tamanho do Facebook, com seu impressionante 1,19 bilhão de usuários ativos. A diferença significativa de valor de mercado permite que o Facebook garanta seu futuro comprando possíveis ameaças. Uma das redes mais citadas pelas adolescentes, o Instagram, foi comprada pelo Facebook por US$ 1 bilhão, em 2012. Com dinheiro no bolso, é muito mais fácil parecer bacana. [epoca]
Nenhum comentário:
Postar um comentário