A Europa mostra que, apesar de meses de recessão e da crise da dívida soberana, os consumidores ricos, principalmente de países emergentes, voltaram a gastar com artigos de luxo. A recuperação súbita das vendas de acessórios caros, jóias e roupas, especialmente em países importantes para esse mercado como França e Itália, está forçando os gigantes europeus dos bens de luxo a voltar a investir em sua terra natal, após uma década buscando novos clientes nos mercados emergentes.
Com uma gravíssima crise econômica e financeira, imersa na paralisação, no desemprego e do desalento, existe uma outra Europa, que cresce a taxas chinesas — 10% ao ano nos anos recentes, perspectivas que oscilam entre 7% a 9% neste ano e nos próximos –, emprega 1,5 milhão de pessoas que não deverão perder seus postos de trabalho e aporta a espantosa cifra de quase meio trilhão de dólares ao PIB europeu: a Europa da indústria do luxo.
Esses dados constam do relatório O Valor das Indústrias Culturais e Recreativas para a Economia Européia, divulgado pelo vice-presidente da Comissão Européia e comissário europeu de Indústria e Empreendedorismo, o italiano Antonio Tajani.
O estudo foi encomendado à consultoria multinacional Frontier Economics pela Aliança Européia de Indústrias Culturais e Recreativas (ECCIA, de sua sigla em inglês), que reúne entidades do gênero das cinco maiores economias do continente — Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Espanha.
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O uso da palavra “luxo” vem sendo discutido pelos integrantes da ECCIA, uma vez que é disso que se trata sob o eufemismo de “indústrias culturais e recreativas”: joias, alta moda (incluindo calçados, bolsas e todo tipo de assessórios), perfumes, cosméticos, produtos de beleza, relógios, mobiliário, objetos de decoração, tapeçaria, bebidas exclusivas, chocolateria, bebidas finas, automóveis, barcos e mais um sem fim de produtos.
Alguns setores temem o sentido pejorativo da palavra. Tajani, o comissário europeu, porém, considera que “o luxo pertence ao patrimônio cultural europeu, e não é apenas dinheiro: é qualidade, é um cartão de visitas da Europa para o mundo”.
A francesa Elisabeth Ponsolle de Portes concorda: “A qualidade é uma característica europeia”.
Tal como Tajani, o espanhol Carlos Falcó acha que o luxo abre caminho para outros produtos europeus, e lembra que, nos países asiáticos, luxo “é sinônimo de êxito”. Não por acaso, a maior economia da Ásia e a segunda do mundo, a China, já absorve 10% de todo o mercado de luxo do planeta, percentual que deverá chegar a 45% em 2020.
Nesse cenário, o futuro parece risonho para uma indústria, como a europeia do luxo, que, faturando meio trilhão de dólares (ou 440 bilhões de euros) em 2010, ocupa 70% do mercado mundial e representa uma fatia de 10% de tudo o que os países da União Europeia exportam.
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