Poucas pessoas discorrem com tanta propriedade sobre a indústria da beleza quanto o francês Jean-Paul Agon, 54 anos, ele próprio um inveterado consumidor de cosméticos. Há três décadas na L´Oréal, onde começou como vendedor, Agon chegou em 2006 ao posto de GEO do grupo, o líder mundial do setor, fundado em 1909 pelo químico Eugéne Schueller. Tal experiência o fez adquirir uma visão bastante realista até sobre os produtos que vende, algo raro. Sem rodeios, ele diz: "Ainda temos de avançar muito em relação ás principais aflições de homens e mulheres". Casado e pai de três filhos, em visita ao Brasil Agon concedeu a seguinte entrevista a revista Veja. Fiz uma seleção das perguntas mais interessantes confiram:
1- O Senhor diria que os cosméticos hoje entregam o que prometem?
Isso não aplica a todos. È verdade que a propaganda está hoje bem mais realista quanto ás limitações dos produtos de beleza, um avanço inquestionável. Mas a toda hora aparece um creme no mercado divulgando falsas promessas. O espantoso é que isso não acontece apenas com marcas desconhecidas e irrelevantes, que têm pouco poder. A veiculação de promessas fantasiosas ocorre também com os cosméticos de grandes empresas. Veja o caso da americana Revlon. Ela passou anos martelando o slogan "Beleza é a esperança num pote". Bonito, mas ineficaz. Com o tempo, foi se revelando um grande erro reforçar a ideia de que aquele produto concentrava uma espécie de fonte da juventude. Hoje, não á toa, a Revlon está á beira da falência. Essa é uma lição bem básica para a moderna indústria da beleza, a estratégia de florear a realidade não funciona mais.
2- Por que se tornou mais difícil inflar promessas nessa área?
Por dois motivos. Primeiro, os testes para medir os efeitos dos cosméticos foram se tornando mais científicos, por exigência do próprio mercado. Em segundo lugar, as pessoas parecem estar, enfim, adquirindo um radar para farejar as mentiras nesse universo, um estágio de amadurecimento que alcançaram depois de muita experimentação. Até os egressos da classe C, que só agora começam a ter dinheiro no bolso para comprar produtos de beleza, revelam um curioso traquejo quando vão ás lojas. Tal fenômeno se vê de forma bastante acentuada em países emergentes, como o Brasil.
3- O que, afinal, a ciência já descobriu sobre a eficácia dos cosméticos para reverter os efeitos da idade?
Sabemos muito mais sobre como prevenir os sinais do envelhecimento do que sobre como revertê-los. Na prevenção, aí, sim, os resultados têm sido animadores. Já está provado, cientificamente, que o uso disciplinado de certos produtos tem o poder de desacelerar a incidência de rugas de maneira realmente significativa. Com segurança, é possível afirmar que alguém que começa a cuidar da pele do rosto por volta dos 30 anos chega aos 60 aparentando de dez a quinze anos menos do que uma pessoa da mesma idade que não submeteu á mesma rotina de beleza.
4- O que exatamente funciona na área da prevenção?
Duas medidas bem básicas, mas ainda muito negligenciadas pelas mulheres: passar hidratante e protetor solar. Os cremes antirrugas também dão sua contribuição, mas sabe-se que seus efeitos são variáveis. Eles dependem da genética de cada um e do tipo de produto. Sabemos que muitas pessoas perdem tempo e dinheiro investindo em cremes sofisticadíssimos, mas contraindicados para seu caso específico. A elas, faço uma advertência: nem sempre o cosmético caro com uma grife reluzente será o mais eficaz.
5- Existe uma frente de pesquisas promissora no tratamento contra as rugas?
Sim. Os melhores cientistas do ramos estão hoje debruçados sobre uma questão crucial, que é aplicar a nanotecnologia para alcançar as camadas mais profundas da pele. A verdade é que ainda não sabemos a maneira de fazer isso sem que certos componentes químicos dos cremes entrem em contato direto com a corrente sanguínea, causando aí efeitos colaterais indesejáveis. Outra área que está sendo desbravada é aquela que pode pôr o conhecimento sobre o genoma humano a serviço da regeneração da pele. Nesse sentido, nosso cientistas deram recentemente um passo importante, ao mapear as proteínas que caracterizam as peles mais jovens. Elas vão se tornando inativas com o passar dos anos. Acrescentamos ao creme os ativos biotecnológicos que justamente desencadeiam a produção dessas proteínas associadas á juventude. Falta, no entanto, descobrir como potencializar os efeitos. Estou certo de que não apenas as mulheres mas também os homens estão interessadíssimos no assunto.
6- Alguma especificidade chama atenção no trato das brasileiras com a beleza?
O que mais espanta no Brasil é a obsessão pelos cabelos. Para se ter uma ideia, as brasileiras chegam a usar cinco tipos de produto de uma vez só, xampu, condicionador, máscara, creme para pentear e silicone. Em nenhum outro lugar do mundo esse ritual consome tanto tempo: até quarenta minutos diários.
7- Está próximo o dia em que se criarão tinturas que não ressecam os cabelos?
É preciso que se reconheça que, até bem pouco tempo atrás, tudo o que tínhamos para oferecer eram tinturas que deixavam os fios secos e quebradiços. Depois de um século assim, finalmente no ano passado foram lançadas no mercado as primeiras fórmulas sem amônia. Era uma substância essencial para fixar a nova cor, mas trazia seus efeitos colaterais. Sem a amônia, é realista dizer que os danos ao fios foram reduzidos a níveis aceitáveis.