A beleza é um atributo natural que hoje, mais do que nunca, pode ser ressaltado por intervenções estética, cuidados diários, mudanças de estilo e comportamento. Um cirurgião plástico americano até inventou um teste que ajuda a verificar quanto você pode ser considerado belo, e como é possível melhorar o seu desempenho nesse aspecto. Para a filosofia, o conceito de belo liga-se, de maneira indissociável, ao de verdadeiro, e por extensão, ao de bom e justo. Isso ecoa no cotidiano quando classificamos um bom gesto de "belo" ou recriminamos uma criança que cometeu uma peraltice dizendo que ela fez uma "coisa feia". Estamos, aí, ainda que nos aspectos mais comezinhos da vida, no terreno da metafísica, a subdivisão do conhecimento filosófico que se debruça sobre tudo aquilo que ultrapassa a experiência sensível. Há, de fato, na beleza de um flor, de uma pessoa, de uma obra de arte, algo que parece transcender o aspecto físico e que se conecta ao que há de idealmente mais perfeito e, até mesmo, ao que é considerado divino. Mas, independetemente de estar associada a outros conceitos sublimes, a beleza requer definição concreta, o que nos ajuda, inclusive, se nem sempre nos tornarmos mais verdadeiros, bons ou justos, pelo menos mais agradáveis ao espelho. Não basta, portanto, intuir que algo é belo, bonito. É preciso entender por que desperta em nós essa percepção deleitosa. De acordo com o estudo das proporções e da biologia evolutiva, a beleza não é apenas questão de gosto, é a reunião feliz, e não muito comum, de simetria, harmonia e unidade. Uma forma de inteligência biológica com evidentes vantagens adaptativas. Em outras palavras, a beleza paira acima das apreciações meramente pessoais. Nos mais de trinta séculos que separam Nefertiti de sua equivalente moderna, a atriz americana Angelina Jolie, a progressiva compreensão das formas de beleza e as tecnologias dela surgidas produziram uma grande conquista: hoje, talvez não sejamos intrinsecamente mais belos do que outras gerações, mas podemos ficar mais bonitos do que nuca. Tudo o que nos permite explorar nossos pontos fortes e driblar nossas fraquezas genéticas é resultado da combinação entre os avanços nos cuidados com a aparência física e estilo, a possibilidade de envelhecer com saúde e, não menos essencial, a valorização de atributos sociais como autestima, simpatia, cultura e expressividade. "É o equilíbrio dessas qualidades que torna um indivíduo mais ou menos atraente". diz o cirurgião plástico Noel Lima, do Rio de Janeiro. O cirurgião plástico americano Robert Tornambe, autor do livro A Fórmula de Cálculo da beleza (editora Matrix), criou uma conta, o Quociente de beleza (QB), que leva em consideração bem mais do que as características genéticas de cada um. O QB também inclui os hábitos de vida e a maneira de se vestir e de se comportar. Em resumo, o que importa é o conjunto. Algo desagradável na personalidade, comportamentos inadequados, o uso excessivo de perfume, todos esses são fatores que podem diminuir o QB de uma pessoa, Contudo, ao detectar problemas por meio do teste, é possível aumentar o seu quociente de beleza. Não é difícil identificar, nos dias de hoje, os contornos obrigatórios do belo e contribuir para a sua manutenção, ou, inversamente, na sua ausência, destruir a impressão de beleza. O corpo firme e torneado é desejável, mas o peso em excesso ou flacidez muscular são mais do que indesejáveis: são indicativos de sedentarismo e maus hábitos alimentares, duas grandes violações dos mandamentos modernos. Um sorriso branco é irresistível, mas dentes gastos, ou manchados ou demasiadamente desalinhados são mais do que feios: sugerem descaso com a saúde bucal e até falta de consideração com as pessoas submentidas á visão deles. A pele lisa e suave é convidativa, mas, quando precocemente envelhecida ou marcada, aniquila a harmonia de traços que porventura exista sob ela. A maquiagem natural e o figurino de elegância simples revelam refinamento, ao passo que o uso excessivo de pintura e as roupas chamativas traduzem estridência. Todos esses artigos da definição contemporânea da beleza são sinais que nosso cérebro interpreta automaticamente como evidência de juventude e saúde. E manter-se jovem, já está mais do que dito e provado, é grande obsessão de mulheres e homens. Quantas vezes, porém, não nos flagramos perdendo o interesse por aquele homem lindo, ou aquela mulher belíssima, depois de alguns, minutos de conversa insossa? E quantas outras vezes não damos conta de que aquele sujeito que parecia tão feio é apaixonante, depois de uns minutinhos de bate-papo inesquecível? A beleza é chamariz ao qual temos dificuldade em resistir. Mas, para que seu efeito permaneça e contagie, o que se quer é algumas coisa a mais, aquela risada gostosa, aquela faísca nos olhos, aquele perfume que só ele ou ela tem, aquele jeito de chegar perto, aquele gesto que, de tão gracioso ou tão másculo, imediatamente desarma e conquista, ou aquela conversa que ilumina os desvãos da alma. O belo, enfim, pode ser medido pela biologia e pela arte. Mas ele é tanto mais belo quanto mais verdadeiro, bom e justo for para nós mesmo e para os outros. A beleza é fisíca, existencial, filosófica...
com reportagem de Daniela Macedo e Gabriella Sandoval.