terça-feira, 11 de junho de 2013

Desmentindo o mito do "bom selvagem"

Populações em guerra contra governos, jovens em guerra contra a polícia, traficantes em guerra contra soldados... Muita guerra? Nada disso. Estamos na era mais pacífica da história

Síria, Wall Street, Rocinha... Um dia antes da morte do ditador líbio Muammar Gaddafi, o psicólogo Steven Pinker, de Harvard, publicava um manifesto na revista científica Nature, com o objetivo de demonstrar que o planeta nunca esteve tão pacífico quanto nas últimas décadas. Mais importante ainda: essa queda na violência teria sido contínua desde o fim da Idade Média. Piada de mau gosto?


Não depois de uma boa olhada na massa de estatísticas recolhidas por Pinker. Terrorismo? Está despencando. Guerras civis? Já foram piores. Limpeza étnica? Fora de moda (*). É fato que o psicólogo de Harvard, talvez o maior pop star da ciência hoje, adora uma polêmica. Em outro de seus livros, Tábula Rasa, ele se dedicou a demolir um dos mitos mais queridos do politicamente correto, o do bom selvagem. 


Pinker defende que somos sangrentos por natureza. Ele argumenta: transformações na sociedade e na cultura são o bastante para diminuir a violência e fazer com que as pessoas vivam em relativa paz. Essa paz, portanto, não acontece com os povos incivilizados, os "bons selvagens".

Veja o caso dos humanos pré-históricos e de seus primos vivos hoje - as tribos de caçadores-coletores, que não mudaram seus hábitos culturais nos últimos milhares de anos - caso dos ianomâmis, da Amazônia, e dos sans, da Namíbia, entre centenas de outros. 

Em média, a taxa de morte por homicídio entre esses povos é centenas de vezes (isso mesmo, centenas) superior à que se vê no mundo desenvolvido hoje. Para cada grupo de 100 mil habitantes na Europa, por exemplo, acontece um assassinato. No Brasil a média de homicídios é de 19 para cada 100 mil. Já nas sociedades de caçadores-coletores, são 500 homicídios para cada grupo de 100 mil. 

Bom Selvagem?... Conta outra!

(*) Outras formas de violência também têm diminuído. Os genocídios dos anos 90 e 2000 mataram um décimo dos que ocorreram no começo do século 20. E o terrorismo era 5 vezes mais comum na Europa dos anos 70 do que hoje. Por fim, formas de violência contra minorias (ataques a negros e homossexuais, por exemplo) também estão em queda nos últimos 50 anos. Será que isso vai durar? Pinker aposta que sim. As decisões baseadas na razão, que guiaram o surgimento das democracias, continuariam mostrando que soluções pacíficas valem mais a pena. Não concorda? Então vem pro pau.

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