Orgasmo Trifásico (Millôr Fernandes)
Orgasmo feminino é coisa da qual as mulheres entendem muito pouco. E os homens, muito menos.
Pelo fato de ser uma reação endócrina que se dá sem expelir nada, não apresenta nenhuma prova evidente de que aconteceu ou se foi simulado. Orgasmo masculino não! É aquela coisa que todo mundo vê. Deixa o maior flagrante por onde passa.
Diante desse mistério, as investigações continuam e muitas pesquisas são feitas e centenas de livros escritos para esclarecer este gostoso e excitante assunto.
Acompanho de perto, aliás, juntinho, este latejante tema.
Vi outro dia, no programa do Jô Soares, uma sexóloga Sergipana dando uma entrevista sobre orgasmo feminino. A mulher, que mais parecia a gerente comercial da Walita, falava do corpo como quem apresenta o desempenho de uma nova cafeteira doméstica.
Apresentou uma pesquisa que foi feita nos Estados Unidos para medir a descarga elétrica emitida pela “Periquita” na hora do orgasmo, e chegou à incrível conclusão de que, na hora “H”, a “perseguida” dispara uma descarga de 250.000 microvolts, ou seja, cinco “pererecas” juntas ligadas na hora do “ai meu Deus!”, seriam suficientes para acender uma lâmpada.
Uma dúzia, então, é capaz de dar partida numa Fusca com a bateria arriada. Uma amiga me contou que está treinando para carregar a bateria do telefone celular. Disse que gozou e, tcham (!), carregou.
É preciso ter cuidado porque isso não é mais “xibiu”, é torradeira elétrica! E se der um curto circuito na hora de “virar o zoinho”, além de vesgo, a gente sai com mal de Parkinson e com a lingüiça torrada.
Pensei: camisinha agora é pouco, tem de mandar encapar na Pirelli ou enrolar com fita isolante. E na hora “H”, não tire o tênis nem pise no chão molhado! Pode ser pior!
É recomendável, meu amigo, na hora que você for molhar o seu “biscoito” lá na canequinha de sua namorada, perguntar: “é 110 ou 220 volts?”.
Senão, meu xará, depois do que essa moça falou lá no Jô, pode dar “ovo frito no café da manhã”.
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Millôr Fernandes, cartunista, jornalista, cronista, dramaturgo, roteirista, tradutor e poeta brasileiro. Cartunista, vem colaborando nos principais órgãos da imprensa brasileira; cronista, tem mais de 40 títulos publicados; dramaturgo, alcançou sucessos como Liberdade, Liberdade (em parceria com Flávio Rangel), Computa, computador, computa e É..; artista gráfico, tem trabalhos expostos em várias galerias de arte do Rio de Janeiro e no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ. Faz roteiros de filmes, programas de televisão, shows e musicais e é um dos mais solicitados tradutores de teatro do país. Irônico, polêmico, com seus textos (aforismos, epigramas, ironia, duplos sentidos e trocadilhos) e seus desenhos constrói a crônica dos costumes brasileiros dos últimos sessenta anos.
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